quarta-feira, 5 de março de 2008

O sorriso dela

Tenho percebido um certo sorriso cínico constante em mim. São instantes de felicidade simples. Ainda que esteja a cabeça com problema escorrendo pelo ladrão, resiste a tal covinha discreta.

Às vezes lembro de momentos gostosos e me pego quase gargalhando, gritando na rua. Só percebo quando alguma alma pesada me lança aquele olhar de recriminação. Se é pecado ser feliz, eu disfarço. Tiro meu sorriso do caminho e deixo os doloridos passarem reto. Atravesso a rua.

Astros têm me facilitado a vida. Domingo fez um sol delicioso. Lá pelas duas da manhã a casa de infinita areia fez-se paraíso. Era tanta estrela, que a lua nova se tornou óbvia por dedução lógica. Mas como não há lógica na vida do céu, fomos maravilhosamente surpreendidos. Surgiu sorrindo para pobres mortais, ela. Minguante, prateada, deitada, o próprio sorriso do gato da Alice. Nós num mundo de simples maravilhas.

Naquele dia foi melhor o mergulho da noite. O mesmo mar que de manhã só nos cuspia espuma, agora convidava. Aceitei. A noite quente secou o corpo rapidamente e nenhum vento me gelou a espinha. Me senti parte daquilo tudo, como um quinto elemento. Senti que corriam os segundos de uma noite inesquecível. Sabia que o que eu via ali era o céu mais lindo que já se havia apresentado. Pensei, então, que era tudo mentira. Eu não estava ali. Ela não estava lá. Ou simplesmente era eu lá em cima, aquela lua felina, cínica e inacreditavelmente sorridente.

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