sexta-feira, 3 de abril de 2009

Vôo Livre


e eu?

eu
estou no rabo do cometa
na partícula distante
de corpo presente
de mente ausente

eu?
eu
não digo que cheguei
estou sempre saindo
deixando
mas volto

e eu?
eu
não vi nada disso acontecer
ninguém me contou
se por fora há o mundo
só conhece quem não vê

eu?
eu, amigo
eu que não sei de mim
me vejo em ti
me espelho no outro
pra ser este alguém

eu?
eu estou distante
de mim, de ti, do ser
sou o que dizem
porque pra mim
nada basta

me empresto pro outro
é ele quem me constrói
porque eu sou é do mundo
sou dos ares
eis minha plenitude
este eterno vôo.

e pergunto, amigo
e eu?
o que me fazes?
cuida,
pois posso simplesmente tornar-me.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Outra


http://arteria.stripgenerator.com

Minha primeira tirinha

http://arteria.stripgenerator.com/

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Pensamento do dia



São do tempo as torrentes valorosas da revolução.
Mas é dele também o lapso inevitável da brandura.
LB yesterday's


The Persistence of Memory
Salvador Dalí, 1931


terça-feira, 12 de agosto de 2008

... and then I met David Lynch

Quando cheguei na Travessa do Shopping Leblon já estava formada a fila. Até então ela cabia dentro da livraria. Ali descobri que o evento havia sido remarcado para 1 hora depois do divulgado. A espera, curiosamente, não foi desagradável.

Quando ouvi o tema do diretor playboy de "Mulholand Drive" sabia que era o anúncio da sua chegada. Não deu outra. Ele adentrou o ambiente bucólico de lindos livros encoberto por uma luz.

De repente já era a minha vez. O segurança tomou de arranco o livro da minha mão. Saltei rapidamente para aproveitar cada segundo do meu tete-a-tete com o mestre.

Ele autografou meu "Em águas profundas" e quando se virou pra mim encontrou um sorriso. Retribuiu-o e esticou sua mão. Estiquei a minha e ele apertou. Apertou forte e segurou.

- I bought your book a few weeks ago and I read it. (pausa) Thanks for writing it.

Foi o que consegui dizer. O "thank you" dele em retribuição soou por duas ou três vezes.

Fim do diálogo, mãos se soltaram. Saí da fila tremendo de uma energia absurda. Tontinha, fiquei olhando pra minha mão em riste no ar, vermelha com pontinhos brancos.

Existem mil coisas que eu gostaria de falar pro David Lynch, mas não era o caso de se traçar mil linhas. Saí feliz porque disse o que disse e consegui algo precioso pelo qual eu não esperava.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

O futebol

Hoje o Rio amanheceu de luto. O sol foi engolido pelas nuvens como o grito pelo tricolor. A esperança desvaneceu. Nesses dias de espectativa pré-decisão fui indagada:

- Desde quando você assiste a jogo?

- Eu não sabia que você gostava de futebol.

A questão é mais complexa do que simplesmente gostar ou não gostar. Venho de duas gerações conseguintes de mulheres graduadas em Educação Física pela UFRJ. Minha vó, já na década de 30 corria nas quadras. Quando pequena, eu não faltava à uma aula de suadouro na escola – e olha que tinha que madrugar pra comparecer. Treinei por anos no time de handbol da escola. No segundo grau também joguei no de futebol de salão. Fiz diversos gols. Posso ser considerada uma espectadora minimamente iniciada. Mas torcer por futebol no Brasil é uma história que vai mais longe.

Tenho pavor do fanático por futebol tanto quanto do religioso. Há casos de perda total de racionalidade e bom senso. Lembro de um maluco – louco mesmo! – que parecia ter uma única certeza na vida: o amor pelo Fluminense. Como segurar um desses na noite de ontem?

Outra coisa que não me apetece é essa farofa de time de bairro. Um do lado do outro se odiando por causa de uma coisa idiota. É tudo carioca, folgado igualzinho. Se é bom enquanto dura, não tem que ser ruim depois. Que mania de estragar a brincadeira no final!

Tem mais. Devo confessar aqui que faço parte do grupo mais desprezado pelos torcedores de futebol: eu sou vira-casaca. Sou como um ateu para o muçulmano, ainda pior que um judeu. Eu sou a escória da raça. A inocência infantil fez com que me convencessem não só que eu deveria ter um time, como de que este só poderia ser o Flamengo. O mesmo cara que treinou o Flu pra final da Libertadores me seduziu há muitos anos atrás. Sai fora, urubu. Se existe livre-arbítrio, eu quero é gol de barriga.

O desfecho da partida de ontem no Maracanã foi trágico. Eu só não me conformo com o carioca que fica feliz com isso. Que prazer sádico! É por isso que eu gosto mesmo é de jogo do Brasil, todo mundo no mesmo balaio! Mas o Rio se sentiu traído. E nada me tira da cabeça que esse tempo nublado é uma vingancinha da cidade. Hermanos, fiquem com o título, mas hoje vocês não vão comemorar na minha praia!